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Natal dos inimigos

Em várias ocasiões, o ódio nacionalista foi ignorado por simples combatentes que participaram da Primeira Guerra.
Em várias ocasiões, o ódio nacionalista foi ignorado por simples combatentes que participaram da Primeira Guerra.
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Quando estudamos as motivações para a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), os livros costumam assinalar as rixas políticas e as tendências nacionalistas que instalaram um clima de tensão e ódio entre as nações européias. Contudo, o tom generalizador da narrativa contida nesses textos deixa de abraçar muitas situações peculiares que ocorreram durante esse conflito. Para exemplificar tal ponto, passemos a falar um pouco dos primeiros conflitos da guerra, ocorridos entre 1914 e 1915.

Nessa fase, as nações inimigas se entrincheiravam em enormes valas repletas de armamentos e soldados. Contudo, preparados para um conflito desde os fins do século XIX, os países inseridos naquela grande guerra não conseguiam obter vantagem contra inimigos que tinham um poder de destruição equivalente. Além disso, vários relatos contam sobre uma série de práticas e condutas que fugiam daquele “ideal romântico” de luta ininterrupta contra as odiáveis tropas estrangeiras.

Na verdade, o ambiente nas trincheiras propiciava uma grande aproximação entre os solados envolvidos no conflito. Segundo alguns escritos dos que estiveram em combate, os soldados de uma trincheira conseguiam ouvir as conversas, risadas e cantos de uma trincheira inimiga localizada a poucos metros de distância. De fato, a inserção em uma guerra onde muitos não compreendiam ou acreditavam em suas motivações acabou criando situações de comunhão entre os rivais.

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Em dezembro de 1914, houve diversas tréguas entre as tropas inimigas, soldados britânicos, franceses e alemães se encontraram para comemorar o Natal. Esse tipo de situação, além de demonstrar a inconsistência do ideário nacionalista, também simbolizava a frustração de uma guerra onde ambos os lados acreditavam em uma vitória rápida. Em certas regiões, inimigos chegaram a trocar presentes e montar pequenas árvores de Natal improvisadas.

A surpreendente atitude tomada pelos combatentes acabou incitando uma fiscalização maior dos altos escalões, que passaram a evitar qualquer tipo de trégua não autorizada pelos comandantes. No entanto, para evitar problemas com os comandantes superiores, muitos soldados relatavam em seus diários a aproximação dos inimigos, tentado se eximir de qualquer culpa das tréguas estabelecidas. Contudo, outros diários de soldados de baixo escalão faziam menção sobre “bons vizinhos” ou realizando o chamado “live and let live” (viver e deixar viver).

Dessa forma, podemos enxergar nesse tipo de situação uma rica fonte de compreensão do passado onde vemos o descompasso entre o relato oficial e a narrativa dos indivíduos que viveram uma determinada História. Seria, no mínimo, estranho pensar que o ódio e a matança predominaram todos aqueles cinqüenta meses que marcaram a Primeira Guerra. Sendo feita pela ação de homens, a História experimenta descaminhos que, muitas vezes, fogem do nosso olhar.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Escritor do artigo
Escrito por: Rainer Gonçalves Sousa Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUSA, Rainer Gonçalves. "Natal dos inimigos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/natal-dos-inimigos.htm. Acesso em 18 de março de 2024.

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